06 janeiro, 2009


O narcisismo dos artistas parece então carregar-se de uma espécie de exaltação masoquista, que os leva por  vezes a ferirem-se a si próprios. Para provocarem o público, há alguns que chegam mesmo a retalhar a sua própria pele, como Gina Pane, a enrolar serpentes à volta do pescoço e do rosto, como Marina Abramovic, ou a contorcer-se em espasmos de dor como Gunter Brus. Outros, como os gays Gilbert & George, prolongam a sus identificação com a obra de arte para lá  do tempo de exibição: pretendendo viver como uma obra de arte todos os momentos dos seus dias, transformam cada gesto em acontecimento. Em muitos casos, a transgressão é particularmente ousada. Os serões futuristas parecem, em comparação récitas de escola. A polícia  intervém frequentemente para interromper performances consideradas ultrajantes, e vários artistas são julgados em processos judiciais. Na ânsia de omnipotência que parece animar alguns, o limite entre operação artística e obscenidade é bastante frágil, e Otto Muehl acaba por passar anos na cadeia devido aos excessos praticados no seio da comunidade que fundou. 
Neste contexto, a relação com o mercado da arte também muda. Como não é possível à venda o próprio corpo do artista, as galerias tem de se contentar com as fotografias ou os filmes das performances realizadas. Por seu lado, o público não só é obrigado a assistir a cenas desagradáveis ou repugnantes, como também se sente frustrado no seu desejo-aliás, legítimo-de comprar objectos de arte, tendo eventualmente de se contentar com documentos comparáveis ao material que existe nos arquivos e nas bibliotecas.